Alvissarismo Filosofia e Religião Brasileira

Filosofia Tupiniquim
A Filosofia Brasileira rumo à Filosofia Tupiniquim só pode existir enquanto uma Filosofia Rapsódica. A rapsódia (no sentido filosófico que aqui lhe damos) é uma justaposição, de uma unidade sistêmica e formal de uma Filosofia exclusivamente baseada em nosso folclore brasileiro. Uma filosofia Rapsódica caracteriza-se por ter apenas um movimento – o Alvissarismo –, que está para a história da Filosofia assim como o Modernismo está para a história da Literatura. Alvíssara está para a Filosofia assim como Macunaíma está para a Literatura. O Alvissarismo é um sistema filosófico, político, econômico e religioso de origem brasileira, de caráter sincrético, abraâmico, agnóstico-teísta, monista- espiritualista, que sintetiza crenças e práticas do Judaísmo, do Cristianismo e do Espiritismo com o folclore brasileiro e a mitologia tupi-guarani, mas integrando fortes variações de temas marcados por sua intensidade e tonalidade sem necessariamente seguir uma estrutura pré-definida, porém capaz de erguer uma identidade filosófica brasileira.
A Filosofia rapsódica que deve marcar a passagem da Filosofia Brasileira ao princípio da Filosofia Tupiniquim é marcada por uma sistematização mais livre do que as outras variações filosóficas do mundo, uma vez que a Filosofia Rapsódica não há a necessidade absoluta de repetição exata dos temas centrais, podendo se criar novos temas no decorrer da sistematização, como é o caso – no Alvissarismo – da teoria do roubo do fogo e do paradoxo do falante, que basicamente descrevem a mesma coisa, porém de pontos de vista opostos. Enquanto a teoria do roubo do fogo constrói um sistema formal consistente sobre a origem da linguagem, por outro lado o paradoxo do falante constrói um sistema formal inconsistente.
Oswald de Andrade foi o primeiro Filósofo Brasileiro da história do Brasil, e não somente um escritor ou poeta modernista. Na verdade, Oswald de Andrade foi o único modernista que de fato fora um Filósofo – todos os outros autores que vieram antes dele e depois dele, como Mário de Andrade, Darci Ribeiro, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, José de Alencar, Monteiro Lobato, Manoel Bandeira, Lima Barreto, Gilberto Freyre, João Cabral de Melo Neto, Antônio Gonsalves Dias, Rachel de Queiroz, Gregório de Matos, Cora Coralina, Olavo Bilac, Jorge Amado, Ariano Suassuna, entre outros, buscaram com certo sucesso responder: o que é o Brasil? Mas o único que de fato conseguiu responder a esta indagação de forma filosófica fora Oswald de Andrade (o primeiro Filósofo Brasileiro). Todos os outros intelectuais do Brasil foram e são apenas filósofos do Brasil e não Filósofos Brasileiros –, incluindo Matias Aires, Silvio Romero, Tobias Barreto, Mário Ferreira dos Santos, Vicente Ferreira da Silva (a quem Oswald dizia ser o único filósofo brasileiro, mas com certeza não sabia o que estava dizendo, porque ele sim de fato fora o primeiro Filósofo Brasileiro da história do Brasil), inclusive o gênio mundialmente reconhecido Newton da Costa, Cláudio Henrique de Lima Vaz, Luiz Caramashi, Olavo de Carvalho e todos os outros maiores e menores nomes da história da filosofia no Brasil.
No entanto, o mais importante escritor brasileiro que permite a nós – filósofos brasileiros – compreender de fato o que é o Brasil e produzir a sistematização da passagem de uma Filosofia Brasileira a uma Filosofia Tupiniquim chama-se Luís da Câmara Cascudo. Este não foi por natureza um filósofo como Oswald de Andrade, mas deu ao intelectual brasileiro o instrumento para que nós – filósofos brasileiros – pudéssemos de fato sistematizar a passagem da Filosofia Brasileira à Filosofia Tupiniquim, e este instrumento se chama Dicionário do Folclore Brasileiro.
“Nenhuma ciência possui como o folclore maior espaço de pesquisa e de aproximação humana. Ciência da psicologia coletiva, cultura do geral no homem, da tradição e do milênio na atualidade, do heróico no cotidiano, é uma verdadeira História Normal do Povo”. (Câmara Cascudo).
A esta área do saber ou ciência que possui o folclore como objeto de estudo e aproximação humana de fundo psicológico, antropológico, sociológico e cultural da tradição de um povo é o que nós chamamos de Filosofia Rapsódica. O que é a Filosofia Rapsódica? A Filosofia Rapsódica é o ramo da filosofia que tem por objetivo o estudo da origem, da essência, da natureza e dos fundamentos do folclore. A Filosofia Rapsódica estuda o julgamento e a percepção do que é o folclore ou do que é considerado folclórico, a produção das emoções e das tradições folclóricos, bem como: as diferentes formas de folclore e da técnica folclórica; a ideia de folclore e de criação folclórica, ou seja, o que pode ser considerado folclore ou não.
Deste ponto de vista, os primeiros filósofos rapsódicos da história foram os irmãos Green na Alemanha e Luís da Câmara Cascudo no Brasil. Câmara Cascudo está para o Brasil e para o mundo assim como os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm estão para a Alemanha e o mundo.
“Posso dizer que o Dicionário do Folclore Brasileiro, que eu fiz em tantos anos, representa, incontestavelmente, o mural das minhas habilidades no tempo e no espaço. Ali estão as minhas curiosidades, o segredo, a alegria da minha preferência”.
(Câmara Cascudo).
A união incondicional entre a filosofia e o folclore iniciada pela teoria do roubo do fogo – cujo mito é de origem indígena – promoveu a existência de uma identidade filosófica puramente brasileira. A união entre a filosofia e o folclore constitui o caminho central para a passagem de uma Filosofia Brasileira a uma Filosofia Tupiniquim capaz de descobrir o que de fato é o Brasil, no sentido de uma busca por uma identidade filosófica puramente brasileira. Muitos intelectuais brasileiros em especial escritores e poetas se empenharam na definição de uma identidade brasileira, mas no que tange à filosofia, isto apenas fora problematizado pioneiramente pelo filósofo Roberto Gomes, mas a sistematização concreta de uma Filosofia Brasileira que uniu o folclore e a filosofia só viera a existir de fato com o nascimento do Alvissarismo – e disso muito nos orgulhamos –, pois assim alcançamos a independência da Filosofia Brasileira já descrita noutro livro.
Cascudo define o folclore como um patrimônio de tradições que é transmitido oralmente de geração em geração e que é capaz de passar pela peneira do tempo, sendo conservado pelos costumes de um povo.
“Todos os países do Mundo, raças, grupos humanos, famílias, classes profissionais, possuem um patrimônio de tradições que se transmite oralmente e é defendido e conservado pelo costume. Esse patrimônio é milenar e contemporâneo. Cresce com os conhecimentos diários desde que se integrem nos hábitos grupais, domésticos ou nacionais. Esse patrimônio é o FOLCLORE. Folk, povo, nação, família, parentalha. Lore, instrução, conhecimento na acepção da consciência individual do saber. Saber que sabe. Contemporaneidade, atualização
imediadista do conhecimento”. (Câmara Cascudo.)
Cascudo neste momento de sua reflexão apresenta o vínculo indissociável entre o folclore e a sabedoria popular. O Alvissarismo, por sua vez, se utiliza do folclore e da sabedoria popular para sistematizar um saber filosófico e erudito. Cascudo, no entanto, ressalta que, o que de fato define um fato folclórico de um fato não folclórico; são quatro elementos básicos: antiguidade,
anonimato, divulgação e persistência.
Cascudo assim o diz:
“O folclore é o popular, mas nem todo popular é folclore. A Sociedade Brasileira de Folk-Lore (1941) fixou as características do conto, a estória, como tive a inicial coragem de usar em 1942, e que coincidem com o fato folclórico: a) Antiguidade/ b) Anonimato/ c) Divulgação/ d) Persistência.” (Câmara Cascudo).
Deste modo, a Filosofia Rapsódica , que é uma unificação ou síntese entre a filosofia e o folclore está diretamente vinculado à três pontos principais.
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A Filosofia Rapsódica deve conter uma síntese entre o saber erudito e o saber popular, isto é, uma síntese entre a Filosofia e o Folclore.
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A Filosofia Rapsódica deve possuir suas origens na remota mitologia brasileira ou tupi-guarani.
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A Filosofia Rapsódica deve ter sua raiz plantada em uma mitologia brasileira ou tupi-guarani que possua uma ampla abrangência dentro da sociedade brasileira, mantendo uma continuidade temporal onde, mesmo sendo simultaneamente antiga e persistente através da repetição, da recordação e da reelaboração, mantem-se extraordinariamente vivo no inconsciente coletivo pelos séculos dos séculos.